O filme “Sonhar com Leões”, dirigido por Paolo Marinou-Blanco, aborda um tema delicado: o direito à morte. Essa discussão é complicada e muitas vezes gera polêmica. A legislação sobre eutanásia, por exemplo, não é consensual mesmo em países onde foi aprovada. O filme busca trazer esse tema à tona de forma respeitosa e acessível, sem deixar de lado a profundidade da questão.
A protagonista, Gilda, interpretada por Denise Fraga, é uma mulher com câncer terminal que deseja acabar com seu sofrimento. O filme apresenta Gilda se dirigindo diretamente ao público, usando a técnica conhecida como quebra da quarta parede. Essa abordagem permite que o espectador compartilhe suas angústias e questionamentos sobre a vida e a morte, levando a um diálogo mais próximo e íntimo.
Enquanto Gilda sonha com uma morte digna, o filme também critica a exploração do sofrimento humano por grandes empresas, como a indústria farmacêutica. Os personagens, incluindo Gilda e Amadeu, um jovem agente funerário, refletem sobre a busca por uma morte assistida, evitando o sofrimento até o último momento.
Gilda é uma figura complexa; apesar de sua luta contra a dor, ela busca um novo sentido para a vida. Sua interação com o público mostra que, mesmo em sua situação desesperadora, ela ainda valoriza a vida e se preocupa com as decisões a serem tomadas. A leveza do humor traz um equilíbrio à seriedade do tema, permitindo que o público reflita sem se sentir sobrecarregado.
No entanto, a narrativa apresenta uma mudança de ritmo à medida que Gilda se afasta do espectador. Embora a evolução dos personagens faça sentido dentro da história, essa transição pode deixar o público um pouco desconectado. O diretor, ao questionar e provocar reflexões, busca que a plateia considere a hora da morte como uma decisão individual, algo que se reflete nas conversas de Gilda.
“Sonhar com Leões” é um filme que, através do humor e da sensibilidade, convida à reflexão sobre um assunto muitas vezes considerado tabu. A atuação de Denise Fraga é destaque, trazendo emoção e profundidade à história que, por meio de suas complexidades, provoca questões importantes sobre a vida e a morte.