Mudanças no Natal: Histórias de Superação Após Enchentes em São Sebastião do Caí
Susiane Koepsel, de 50 anos, ainda está se adaptando à nova realidade de não ser mais a anfitriã do Natal da sua família. Depois de quase 40 anos vivendo no bairro Navegantes, em São Sebastião do Caí (RS), onde tradicionalmente decorava uma árvore natural de pinheiro, ela se mudou para um condomínio menor que não comporta os enfeites natalinos que costumava usar.
No início do ano, Susiane plantava um pinheirinho novo todos os anos com seu pai, e, no Natal, a pequena árvore decorava sua casa. Agora, a única lembrança da tradição natalina é um saco de pinhões que ela planeja plantar, mantendo viva a memória da família.
Essas sementes são de sua antiga casa, que foi severamente danificada na enchente histórica do rio Caí, em maio de 2024, que submergiu a propriedade. Hoje, só restam as paredes do banheiro do filho.
Após passar um mês morando com uma amiga e nove meses em uma casa alugada, Susiane comprou uma nova unidade em um condomínio popular, uma das primeiras beneficiadas pelo programa de Compra Assistida do governo federal. Esse programa destina R$ 200 mil para ajudar as vítimas de desastres climáticos a adquirirem uma nova casa.
Desde que se mudou com seus dois cachorros, Feio e Malvadeza, Susiane tem conseguido reunir sua família, mas sente falta da vida comunitária do bairro Navegantes, onde os moradores se conheciam há gerações. Anteriormente, os natais eram grandes festas com amigos e familiares, com muitos preparativos, música alta eendo a celebração um evento memorável.
Atualmente, a comemoração será na casa da irmã, que não é tão espaçosa. A cada ano, a comunidade do bairro está se tornando menor, à medida que as pessoas se redistribuem em outras regiões. Antes da tragédia, a cidade já enfrentava os efeitos de outra enchente, em novembro de 2023.
Dione Johann de Azevedo, de 71 anos, também está enfrentando desafios após perder sua casa na enchente. Indicada por Susiane, ela se mudou para o mesmo condomínio. Sua antiga residência, onde vivia com a filha Amanda, está em estado de abandono desde a tragédia. Embora tenha esperança de reencontrar a estabilidade, Dione mudará o foco nesta temporada para a chegada de seu neto, Theo, que deve nascer em março e trazer alegria à sua vida.
Outra moradora, Marlene Fuhr, de 81 anos, planejava mudar para sua nova casa em Vila Rica antes do Natal, mas atrasos em construção a mantiveram em uma residência temporária. Marlene viveu quase seis décadas na mesma propriedade, que também foi afetada pela enchente. Atualmente, reside com uma irmã.
Ela recorda com nostalgia os natais da infância, cercada pela família em uma grande celebração. Com a chegada das festividades, a dinâmica mudou: neste ano, a ceia será preparada por sua filha mais nova, que fez questão de organizar o amigo secreto em volta de um pinheiro artificial.
Marlene, que espera se mudar definitivamente em março, lida com a saudade das reuniões familiares, mas tenta encontrar um novo significado para as comemorações. Ela acredita que o Natal deve ser mais espiritual e repleto de união, além de presentes e comida.
Essas histórias refletem as mudanças e desafios que muitos enfrentam após desastres naturais, mas também evidenciam a resiliência e a esperança de recomeçar, especialmente em épocas festivas.