Cozinha Solidária Marielle Franco Acolhe Comunidade em São Leopoldo
Em São Leopoldo, no bairro Arroio Manteiga, a Cozinha Solidária Marielle Franco tem se tornado um importante local de suporte para muitas famílias. Desde sua inauguração em 2021, o espaço distribui, em média, 270 refeições todas as terças e quintas-feiras. Essa iniciativa é parte de um esforço maior para atender à crescente demanda por alimentação no Rio Grande do Sul, que possui o maior número de “cozinhas solidárias” certificadas pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social do país — 202 no total.
Cristina Machado dos Santos, de 45 anos, é uma das cozinheiras que atua na Marielle Franco. Com um histórico que a levou de nunca ter cozinhado para muitas pessoas ao prazer de preparar refeições, Cristina compartilha sua jornada. “Antes de começarmos o almoço, já tem gente na fila. Fiquei nervosa no início, mas vi que é minha vocação e as pessoas gostam do meu tempero”, conta.
Os ingredientes utilizados nas refeições são, em grande parte, produzidos localmente. Por exemplo, os tomates, couves e cebolas vêm de Mathias Sasset, agricultor de Lagoa Vermelha, que entrega os produtos semanalmente. Essa colaboração entre agricultores e cozinhas solidárias garante que as refeições sejam nutritivas e frescas.
Como resultado dessas ações, o Rio Grande do Sul é visto como um exemplo positivo no combate à fome no país. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) anunciou esse ano que o Brasil saiu do “mapa da fome”, embora muitos ainda enfrentem insegurança alimentar.
Eliza Christmann Madalena, coordenadora da cozinha, enfatiza a importância desse trabalho. “Cozinhar é um ato de amor, e isso nos mantém. Já passamos por momentos difíceis, improvisando e fazendo com que a comida renda”, diz Eliza, destacando o comprometimento da equipe em fornecer refeições dignas, mesmo frente a desafios.
A Cozinha Solidária Marielle Franco conta com recursos do programa municipal “São Leo Mais Comida no Prato”, além de apoio do governo federal e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), através da Conab.
O Programa Cozinha Solidária, estabelecido pela Lei 14.628/2023 e regulamentado pelo Decreto 11.937/2024, busca oferecer alimentação gratuita, priorizando pessoas em situação de risco social. Esses espaços têm autonomia na gestão e muitas vezes recebem doações.
Fome e Segurança Alimentar no Sul do Brasil
A Região Sul do Brasil apresenta os melhores indicadores de segurança alimentar, com o Rio Grande do Sul ocupando a segunda posição, atrás de Santa Catarina. Dados da Pnad 2024 indicam que 85,2% dos domicílios no estado estão seguros em termos alimentares.
O pesquisador Juliano de Sá, da UFRGS, observa que, apesar das melhorias, há ainda cerca de 9 milhões de pessoas no país que não têm o que comer. “O Brasil saiu do mapa da fome, mas a fome ainda está presente. Precisamos de esforços contínuos, com investimentos em políticas públicas para erradicar essa situação”, afirma.
Sérgio também sugere que mais programas de voluntariado e a diminuição do desperdício de alimentos são essenciais para essa mudança. Ele acredita que as cozinhas solidárias têm sido uma resposta eficaz para lidar com o problema da insegurança alimentar, especialmente durante a pandemia e crises climáticas.
Impacto das Iniciativas Voluntárias
Outra voluntária exemplar é Leidi Rosa Toniolo, de 69 anos, que atua há quase 30 anos em Canoas. Ela participa de iniciativas sociais que incluem a distribuição de marmitas e trabalhos que geram renda para mulheres em situação vulnerável. “Quando ajudo, recebo muito mais de volta”, reflete Leidi.
Recentemente, o Rio Grande do Sul foi premiado no Prêmio Brasil Sem Fome, em reconhecimento aos avanços na política de segurança alimentar e nutricional. segundo Beto Fantinel, secretário de Desenvolvimento Social, esse reconhecimento é fruto de políticas públicas integradas e colaborativas, que refletem em melhorias reais para as famílias no estado.
Além disso, outros programas, como a devolução de impostos para famílias vulneráveis e ações de segurança alimentar, também estão em andamento para enfrentar a fome de maneira efetiva. Com mais de 1 milhão de famílias beneficiadas até 2025, essas iniciativas demonstram o compromisso em garantir a alimentação adequada para todos.