Desperdício de água no Rio Grande do Sul atinge 40% e 1,5 milhão de pessoas não têm acesso à água tratada
O Rio Grande do Sul enfrenta uma grave crise de saneamento, com 40,14% da água tratada desperdiçada antes de chegar aos consumidores. Ao mesmo tempo, aproximadamente 1,5 milhão de pessoas no estado vivem sem acesso a água potável. Essas informações são do relatório recente do Instituto Trata Brasil, que analisou dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa) coletados em 2023.
Em 2021, o governo federal estabeleceu um limite de 25% para o desperdício de água. No entanto, o estado não avançou nesse índice ao longo dos últimos 15 anos. Em Caxias do Sul, por exemplo, de cada 100 litros de água tratada, 53 não chegam ao consumidor. Em Porto Alegre, essa perda é menor, com 28 litros desperdiçados a cada 100. Comparando com cidades desenvolvidas, onde essa perda é de apenas 5 litros, o cenário no Rio Grande do Sul é preocupante.
Causas do Desperdício
O desperdício de água é um problema que também abrange todo o Brasil, com uma taxa de 40,31% de perdas nas redes de abastecimento. Isso significa que o volume desperdiçado poderia atender cerca de 50 milhões de brasileiros em um ano. As principais causas desse desperdício incluem vazamentos, erros na medição e consumo não autorizado de água. Reduzir essas perdas é essencial, especialmente em tempos de mudanças climáticas e crises de abastecimento hídrico.
O estudo aponta que apenas 13 das 100 cidades mais populosas do país estão dentro do limite de desperdício estabelecido. Goiânia se destaca como a capital mais eficiente, perdendo apenas 12% da água tratada.
Investimentos e Desafios
Em 2020, o Novo Marco Legal do Saneamento foi criado para ampliar o acesso à água potável e ao tratamento de esgoto. Através deste marco, o governo busca atrair investimentos para melhorar a infraestrutura de saneamento. Nos últimos cinco anos, foram realizados investimentos que ultrapassam R$ 370 bilhões, mas a universalização dos serviços ainda enfrenta desafios significativos.
O Rio Grande do Sul é um dos estados que concedeu a operação de suas companhias de abastecimento à iniciativa privada. Em 2022, o Consórcio Aegea assumiu a Corsan, com um plano de investimento de R$ 15 bilhões até 2033.
O Papel das Autoridades e da Sociedade
A gestão de saneamento na região abrange 317 municípios. O governo estadual está estruturando a concessão de serviços de abastecimento de água e esgoto para municípios que ainda não têm acesso. A Secretaria da Reconstrução Gaúcha informou que um projeto para apoiar essas áreas está sendo desenvolvido, com previsão de apresentação no primeiro semestre do próximo ano.
A Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) é responsável pela supervisão das metas de saneamento e pela fiscalização das redes de abastecimento. Recentemente, a Agergs assinou um contrato para regular os serviços de água e esgoto em Porto Alegre, buscando parceiros privados para acelerar as obras necessárias.
Desafios e Perspectivas Futuros
Atualmente, o estado investe em média R$ 131 por habitante em saneamento básico por ano, um valor que se encontra acima da média nacional. No entanto, o Plano Nacional de Saneamento Básico sugere que seriam necessários R$ 223,82 por pessoa para alcançar a universalização dos serviços.
Somente 25% da população gaúcha tem acesso a esgoto tratado, colocando o estado na 20ª posição no ranking nacional. Embora a coleta de esgoto aumente, 60% da população ainda não possui esse serviço.
Por outro lado, o abastecimento de água potável é maior, com 86% das famílias tendo acesso. Contudo, essa taxa não teve avanço desde 2019.
Impactos na Saúde
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que cada R$ 1 investido em saneamento pode gerar uma economia de R$ 4 em saúde pública. Doenças relacionadas ao saneamento inadequado, como diarreia e hepatite, colocam pressão sobre os sistemas de saúde. Em 2024, o estado gastou cerca de R$ 6 milhões com internações relacionadas a essas doenças, enquanto 149 pessoas perderam a vida devido a doenças de veiculação hídrica.
A situação é um lembrete da importância de investimentos em infraestruturas e na gestão do saneamento para garantir a saúde e o bem-estar da população.