A Posse de Paulo Henriques Britto na Academia Brasileira de Letras
Na última semana, Paulo Henriques Britto assumiu a cadeira nº 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), um dos maiores reconhecimentos da literatura nacional. Britto é considerado um dos poetas de maior habilidade técnica da literatura contemporânea no país. Sua obra destaca-se por articular uma visão de mundo que valoriza a materialidade sonora das palavras.
Com 73 anos, Britto é carioca e possui graduação e mestrado em Letras pela PUC-Rio, onde atualmente é professor e realiza pesquisas em áreas relacionadas à criação literária e à tradução de poesia. Ao longo de sua carreira, traduziu mais de 100 livros do inglês para o português e também trouxe obras de escritores brasileiros para a língua inglesa. Além disso, ele publicou volumes infantojuvenis, de contos e ensaios, como o aclamado “A tradução literária”, que aborda a sonoridade das palavras.
A poesia de Britto é notável, com uma (anti)lírica que evolui ao longo de suas publicações. Seu primeiro livro, “Liturgia da matéria”, lançado em 1982, reflete suas influências materialistas e irreverentes. A obra “Por ora: poesia reunida (1982-2018)”, publicada em Portugal em 2021, compilou sua trajetória poética, mas ainda não há uma edição semelhante no Brasil, onde seus livros individuais estão disponíveis nas livrarias.
A obra de Britto apresenta temas diversos, abordando questões contemporâneas e existenciais. Em seus poemas, como “O metafísico constipado” e “Horácio no baixo”, ele brinca com os absurdos da vida e explora a condição humana. Seu último livro, “Fim de verão”, também reflete as incertezas causadas pela pandemia, abordando temas como a política e a ignorância.
Em seu discurso de posse, Britto homenageou Heloisa Teixeira, também conhecida como Heloisa Buarque de Hollanda, uma importante figura da literatura e feminismo no Brasil. Heloisa publicou diversas obras que dialogam com a cultura e a política brasileira. Ela foi uma defensora da literatura marginal dos anos 70, que trouxe novos ares à poesia, focando em vozes que não eram ouvidas nos círculos literários tradicionais.
Paulo Henriques Britto ressaltou em sua fala a importância da obra de Heloisa, lembrando seu papel como editora e organizadora de antologias, que contribuíram significativamente para a poesia moderna no Brasil. Ele destacou que a antologia “26 poetas hoje”, publicada por Heloisa, foi um divisor de águas que apresentou ao público novos poetas que, anos depois, se tornaram referências na literatura brasileira.
Britto também refletiu sobre sua própria trajetória e a geração de poetas contemporâneos, ressaltando a busca por um espaço na literatura e o desejo de inovar. Sua participação na ABL marca um reconhecimento não apenas de sua contribuição individual, mas também da história literária do país, alinhando-se a figuras renomadas que ocuparam a mesma cadeira.
A posse de Paulo Henriques Britto na ABL é, portanto, um marco significativo que celebra sua trajetória e destaca a evolução da poesia brasileira, refletindo sobre suas angústias, inovações e a resiliência de seus autores.