A exposição “Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta”, do artista Joseca Mokahesi Yanomami, será inaugurada neste sábado, dia 16, na galeria Almeida & Dale Fradique, em São Paulo. O evento contará com a presença de Dário Kopenawa, líder do povo Yanomami, e do antropólogo Bruce Albert. A mostra, que ficará em cartaz até outubro, exibe cerca de 30 obras inéditas, incluindo desenhos e, pela primeira vez, pinturas em tela. As obras são inspiradas nos sonhos e nas experiências do artista com o xamanismo.
O título da exposição, “Urihi mãripraɨ”, significa “sonhar a terra-floresta” na língua yanomae. As obras retratam cenas e personagens de um mundo invisível, acessível aos xamãs em suas visões oníricas. Joseca descreve seus desenhos e pinturas como “peles de imagens”, que transmitem visualmente a cosmologia Yanomami e criam conexões entre mundos diferentes.
A trajetória de Joseca é parte de um esforço mais amplo de resistência e afirmação cultural de seu povo. Ele colabora com outros artistas e lideranças Yanomami, como Claudia Andujar e Davi Kopenawa. A curadoria da exposição é feita em parceria com Bruce Albert, também coautor do livro “A Queda do Céu”.
Joseca nasceu em 1971 na região do Rio Uxi u e atualmente vive na comunidade de Buriti, dentro da Terra Indígena Yanomami. Ele é filho de um renomado xamã e desde jovem começou a desenhar imagens inspiradas pela floresta. Seu contato com não indígenas o levou a experimentar diferentes materiais e técnicas de arte, sem perder suas raízes culturais.
Nos anos 1990, Joseca ajudou a fundar a primeira escola Yanomami em sua comunidade e participou da criação de cartilhas bilíngues para programas de educação e saúde. Sua obra é reconhecida como uma importante representação do pensamento Yanomami contemporâneo, servindo como um meio de diálogo com as pessoas não indígenas.
Em 2022, ele expôs individualmente no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e, desde então, participou de mostras significativas tanto no Brasil quanto no exterior. Seus trabalhos são exibidos na 60ª Bienal de Veneza em 2024 e no Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Suas obras também fazem parte de coleções de instituiçòes renomadas.
A exposição busca apresentar o que Bruce Albert chama de “realismo xamânico”, onde Joseca mescla elementos do realismo figurativo ocidental a um estilo único. Suas pinturas refletem entidades, lugares e narrativas dos grandes xamãs.
Algumas das obras fazem parte da série “Urihi a në mari” e apresentam títulos na língua Yanomami, destacando a arte de Joseca como uma ferramenta crucial de tradução e preservação cultural. Ao mesmo tempo, suas imagens oferecem uma visão complexa e sensível do universo Yanomami, desafiando as percepções dos não indígenas.
As falas de Dário Kopenawa e Bruce Albert estão programadas para ocorrer entre as 11h30 e 12h deste sábado. A entrada para a exposição é gratuita e a galeria abrirá de segunda a sexta, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 16h, até o dia 11 de outubro. A galeria está localizada na Fradique Coutinho, 1360, em São Paulo.