Na quarta-feira, 26 de julho, a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) realizou um evento importante em Porto Alegre, focando na irrigação e seu impacto na agropecuária e na economia do estado. Com o tema “Desafio da Irrigação na Resiliência Climática”, o encontro contou com a participação do economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz, e do senador Luiz Carlos Heinze. O debate surge em um contexto de perdas significativas nas safras de grãos devido a estiagens frequentes.
Antonio da Luz apresentou dados que evidenciam como as estiagens têm afetado a economia gaúcha. Desde 2020, a produção de grãos passou de uma projeção de 227 milhões de toneladas para uma colheita real de 178 milhões, resultando em uma perda de quase 49 milhões de toneladas. Essas perdas poderiam encher mais de 851 mil carretas bitrem, que se alinhadas formariam uma linha de 25 mil quilômetros.
Os produtores de grãos deixaram de arrecadar cerca de R$ 126 bilhões, um valor que, se movimentado na economia local, geraria cerca de R$ 400 bilhões em atividades econômicas, representando quase metade do PIB do Rio Grande do Sul.
A relação entre a agropecuária e a economia do estado é direta. Em 2020, o PIB do setor caiu 29,6% em relação ao ano anterior, e o PIB do estado mostrou uma retração de 7,21%. Em 2022, houve uma nova queda, desta vez de 41,7% no agro e de 2,8% no PIB gaúcho. Contudo, no ano de 2021, que não teve estiagem, o PIB agropecuário cresceu impressionantes 53%, refletindo que quando a agricultura vai bem, a economia do estado também se beneficia.
Atualmente, apenas cerca de 500 mil hectares dos mais de 8 milhões de hectares cultivados são irrigados. Da Luz destacou que o Rio Grande do Sul tem avançado a passos lentos comparado a outros estados e que, por sua vez, o Brasil também cresce abaixo da média mundial.
“O estado está se tornando mais pobre rapidamente. A falta de investimentos em irrigação é um problema central”, enfatizou o economista. Ele ainda alertou sobre a migração de gaúchos para outras regiões, como consequência da situação econômica. A irrigação é vista como uma solução crucial, especialmente considerando que há chuvas suficientes no estado, ao contrário de países como a Arábia Saudita, que possuem limites naturais de precipitação.
O senador Heinze trouxe à tona um projeto de lei de sua autoria que destina recursos para um estudo técnico sobre áreas com potencial para a construção de açudes nas propriedades rurais. Este trabalho identificou locais para a construção de 9.780 açudes, dos quais 3.286 já estão em operação. Heinze citou casos concretos de municípios que já se beneficiaram com a irrigação de grandes áreas.
O investimento para implantar a irrigação nas propriedades varia entre R$ 25 mil e R$ 30 mil por hectare, englobando a construção do açude, a instalação da rede elétrica e do pivô de irrigação. O senador sugeriu que as prefeituras divulguem programas com suporte técnico para ajudar os agricultores nessa transição.
“A solução é construir açudes para irrigar”, concluiu Heinze, reforçando que esse é um investimento essencial para resolver as perdas enfrentadas pelo setor agropecuário do estado.