Saúde Mental: Um Sonho Coletivo no Brasil
Cuidar da saúde mental se tornou um dos principais desejos dos brasileiros. Um levantamento recente revelou que esse tema representa 25% das postagens em redes sociais por usuários do país. Esses dados refletem um panorama preocupante de tristeza, ansiedade e solidão, e a hora de refletir sobre esse cenário e buscar soluções é agora.
A pesquisa foi conduzida pelo Movimento Bora Sonhar, utilizando a plataforma Cosmos, que analisa uma grande quantidade de dados públicos online. Foram analisadas mais de 104 mil mensagens em redes como Twitter e YouTube. Camila Holpert, cofundadora do projeto, questiona como a saúde mental chegou a ser vista como um sonho distante.
Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que o Brasil é um dos países com o maior número de pessoas ansiosas, ocupando o segundo lugar em incidência de depressão, só atrás dos Estados Unidos. Uma pesquisa recente apontou que 26,8% da população brasileira sofre de transtornos de ansiedade, tornando o termo “ansiedade” a palavra do ano de 2024.
Frases como “sonhando com o dia em que não vou ter ansiedade” e “últimamente, meu maior sonho é ter saúde mental” são comuns nas redes sociais. Esse aumento na preocupação com a saúde mental leva a um alerta: quando sonhar se torna um sinal de desesperança, é um indicador de um problema maior.
A questão da saúde mental vai além do indivíduo; ela está ligada a fatores como estrutura social, mercado de trabalho, segurança pública e urbanismo. O relatório “World Happiness Report” também revela que o Brasil ocupa a 36ª posição em um ranking de felicidade entre 147 países, embora tenha avançado em relação ao ano anterior.
Esse progresso se deve à generosidade dos brasileiros, com 63% afirmando que ajudam desconhecidos, um índice que surpreende, considerando que, em contrapartida, a qualidade das relações sociais tem piorado. Entre 2006 e 2024, muitos brasileiros relataram que suas conexões sociais se tornaram mais fracas.
A solidão é uma preocupação crescente: 19% dos jovens adultos em nível global afirmam não ter a quem recorrer para apoio, um aumento de 39% em relação a 2006. No Brasil, 15% dos jovens sentem que não têm ninguém próximo com quem contar.
Especialistas apontam que a relação entre felicidade e tecnologia é complexa. Os brasileiros passam em média mais de nove horas diárias em telas, e isso pode prejudicar a qualidade das relações pessoais, reduzindo a capacidade de criar conexões significativas. Segundo Henrique Bueno, especialista em felicidade, a tecnologia pode nos dominar em vez de nos servir.
O estresse no Brasil também é alto. Um estudo recente revelou que estamos entre os países com os maiores níveis de estresse, com apenas 26% dos entrevistados relatando não terem enfrentado picos estressantes ao longo do ano.
Muitos brasileiros desejam um pouco de tranquilidade em suas vidas. A psicanalista Carol Romano destaca que o maior oposto da saúde mental não é a tristeza, mas sim o desespero. A confiança nas relações interpessoais e nas instituições é essencial para promover bem-estar. Apesar das atitudes generosas, há uma falta de confiança mútua.
Um estudo mostrou que muitos brasileiros acreditam que uma carteira perdida não seria devolvida, embora 80% dos casos indiquem o contrário. Essa desconfiança pode ser um obstáculo para construir relacionamentos mais saudáveis.
A cofundadora do Movimento Bora Sonhar, Camila Holpert, ressalta a importância de se conectar com os outros. Ela afirma que é essencial perceber que nossos sonhos e medos são semelhantes, e que ninguém realiza seus sonhos sozinho.
A boa notícia é que ainda há tempo para mudar o rumo dessa situação. O estudo “Os Sonhos do Brasil” sugere que escolas, empresas e governos implementem ações concretas para reacender a esperança, promovendo redes de apoio e companheirismo.
Sonhar, segundo Camila, não é só sobre alcançar metas, mas sobre criar um espaço para novas possibilidades. Em um mundo que nos pressiona a estar sempre em movimento, é hora de pausar e sonhar juntos.