Os sonhos são uma parte importante da experiência humana, revelando nuances profundas de nossa individualidade e complexidade. Segundo o psicanalista Sigmund Freud, os sonhos se conectam ao inconsciente e podem ser vistos como uma forma de linguagem que nos apresenta um mundo íntimo e enigmático.
O pesquisador e neurocientista Sidarta Ribeiro, em sua obra “Sonho manifesto”, propõe que sonhar coletivamente pode ajudar a recuperar aspectos valiosos de nossa ancestralidade. O livro apresenta histórias de griôs, mestres de capoeira, babalorixás, xamãs e pajés de povos indígenas. Além disso, traz dados de pesquisas e relatos de diversas tradições, como o budismo e o taoísmo, enfatizando a importância do sonho como um elemento fundamental da vida.
No ano passado, foi celebrado o centenário do Manifesto Surrealista, de André Breton, que explorou a força criativa dos sonhos. A nova publicação “Sonhos ao sol – miragens da arte na América Latina” reúne a obra de aproximadamente 140 artistas latino-americanos e caribenhos e revisita a dimensão do inconsciente. A obra discute a magia e o surrealismo, permitindo uma nova visão sobre a vida a partir do sonho.
Freud observou que a interpretação dos sonhos é uma das chaves para conhecer o inconsciente e uma base sólida para a psicanálise. O ensaio de Fernando Ticoulat, presente na publicação, explora a complexidade da América Latina, que vai além de uma simples definição geográfica, sendo vista como um estado de espírito cultural em constante evolução.
“Sonhos ao sol” apresenta um panorama diversificado da arte latino-americana, com temas como liberdade, imaginação e narrativas que desafiam o ordinário e apontam para o extraordinário. Artistas como Leonora Carrington, Maria Martins, Samico e novos talentos como Fernanda Feher e Rayana Rayo trazem à tona a força do sonho e suas múltiplas interpretações. Essas abordagens artísticas revelam um universo misterioso onde novas realidades podem ser inventadas.
A antropóloga Hanna Limulja destaca que o sonho possui um caráter político e coletivo, funcionando como um espaço onde passado, presente e futuro se entrelaçam. Isso sugere que reaprender a sonhar, como fazem os povos indígenas yanomamis, pode nos ajudar a construir uma sociedade mais justa e diversa.
A dimensão do sonho também se relaciona com a utopia política. Diante do esgotamento da injustiça social, surge a necessidade de imaginar novos mundos e formas de distribuição de renda. O direito ao sonho é essencial, não apenas para atender às necessidades básicas, mas para a construção de um futuro extraordinário. Em um contexto de desigualdade, os sonhos tornam-se uma forma de resistência, criando novos horizontes e possibilidades de vida.
Diante desse cenário, a arte e os sonhos se entrelaçam, oferecendo novas perspectivas e questionamentos sobre a realidade. Os artistas e pensadores convidados a dialogar com essas ideias mostram que a interpretação dos sonhos pode revelar não apenas a complexidade do inconsciente, mas também caminhos para a transformação social e a construção de um futuro mais inclusivo.