A degradação das áreas litorâneas do estado do Rio de Janeiro tem gerado preocupações, especialmente em locais icônicos que costumam aparecer em novelas. Cidades como Paraty, Búzios, Copacabana, e Leblon enfrentam o fenômeno conhecido como “avanço do mar”. Embora o aquecimento global e a elevação do nível do mar sejam fatores que contribuem para isso, muitos especialistas apontam que a principal causa das mudanças nas costas brasileiras é a intervenção humana.
Marcelo Sperle, oceanógrafo da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj), explica que, apesar do aquecimento global estar elevando as temperaturas do planeta e dos mares, essas variações naturais já ocorreram várias vezes ao longo da história geológica da Terra. Segundo o especialista, esse processo é normal e não é novo. O aumento das temperaturas também pode gerar tempestades e inundações, mas estas são reações naturais do clima.
Um dos principais problemas que afetam a estrutura das praias é a remoção da vegetação nativa, como a restinga e os manguezais, para a construção de prédios e quiosques. Essas vegetações atuam como uma barreira natural contra as ondas, absorvendo a energia e protegendo a costa. Quando essa proteção é retirada, as construções ficam mais vulneráveis e a erosão se intensifica. “O que tiramos do mar, ele retribui”, afirma Sperle, ressaltando que a natureza tende a retomar o que lhe pertence.
Diversas praias no Rio de Janeiro são exemplos claros dos impactos dessas interfereências. Confira alguns casos:
Ipanema/Leblon: Essa área enfrenta um déficit de cerca de 2 milhões de metros cúbicos de areia. Isso se deve à retirada de sedimentos do Canal do Jardim de Alah, utilizados na construção civil. Essa atividade comprometeu a dinâmica natural das areias, levando a períodos de “desaparecimento” temporário da faixa de areia.
Praia da Macumba (Sernambetiba): Esta praia sofre consequências severas, com a destruição frequente de quiosques e calçadões devido às ressacas. A construção em áreas que deveriam ser preservadas para mitigar os efeitos das ondas resulta em consequências devastadoras.
Copacabana: A praia de Copacabana é, curiosamente, um exemplo de sucesso em intervenções. Sua larga faixa de areia é resultado de uma engorda artificial, feita na década de 70, que protege os prédios da Avenida Atlântica. No entanto, a área mais afetada pelo avanço do mar é onde essa intervenção foi menos eficiente.
Outro exemplo significativo está em Atafona, no Norte do estado, onde o avanço do mar tem destruído quarteirões inteiros. O represamento do Rio Paraíba do Sul impede o transporte natural de sedimentos que reabasteceriam as praias, resultando em uma erosão progressiva da costa.
Esses exemplos evidenciam que a fragilidade das áreas litorâneas está diretamente relacionada às ações humanas e à falta de planejamento adequado na ocupação das praias. O desafio agora é encontrar formas de proteger esses ecossistemas vitais para que continuem a ser um patrimônio tanto natural quanto cultural do estado.