O debate sobre eutanásia e suicídio ainda é muito delicado e cercado de tabus. No cinema, abordar esses temas requer cuidado, e por isso as reações ao filme Sonhar com Leões, dirigido por Paolo Marinou-Blanco, têm gerado divisões de opinião.
O filme é comparado a O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar, por sua abordagem que mistura humor e drama ao tratar da morte. Ambas as obras tentam apresentar o tema de forma mais leve, mas sem deixar de lado a dor e o sofrimento que envolvem essas questões.
A protagonista, Gilda, vivida por Denise Fraga, é uma imigrante brasileira que vive em Lisboa e enfrenta um câncer terminal. Após várias tentativas de suicídio, ela decide buscar ajuda em uma organização clandestina de eutanásia chamada Joy Transition International. Uma das partes mais criticadas do filme é a maneira casual com que Gilda fala sobre suas tentativas de suicídio, o que provoca diferentes reações dependendo da sensibilidade de cada espectador.
Para alguns, o filme não incentiva o suicídio, mas oferece uma visão realista das pessoas que chegam a essa situação e destaca a importância de procurar ajuda profissional.
Com uma narrativa envolvente, a obra quebra a chamada “quarta parede”, semelhante à série Fleabag, buscando uma conexão mais próxima entre Gilda e o público. À medida que a personagem se envolve com um grupo em um espaço que mistura decadência e distopia, ela começa a redescobrir o gosto pela vida, especialmente após conhecer Amadeu, interpretado por João Nunes Monteiro, gerando uma nova esperança nela.
Em uma entrevista, o diretor Marinou-Blanco revelou que sua experiência pessoal com a morte de seu pai, que sofreu e não teve acesso a cuidados paliativos ou à eutanásia, foi a principal motivação para contar essa história. Ele destacou a contradição entre o desejo de seu pai de acabar com o sofrimento e o amor da família, que lutava para mantê-lo vivo, além do dilema enfrentado pelos médicos.
Denise Fraga, que vive Gilda, apoiou o ponto de vista do diretor. Ela afirmou que o filme não se concentra apenas na morte, mas, sim, na vida e nas possibilidades que ela oferece. Segundo a atriz, a produção instiga a vontade de viver e ressalta que, apesar das dificuldades, a vida é rica e cheia de oportunidades. A arte, ela acredita, ajuda a compreender as imperfeições humanas, permitindo que o público encontre consolo em suas experiências pessoais.
Em resumo, Sonhar com Leões é um filme que provoca reflexão sobre a vida e a morte, desafiando tabus e buscando oferecer uma nova perspectiva sobre temas sensíveis.