sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
Notícias de última hora

Queda no uso de sementes certificadas ameaça produção de trigo no RS

EM 18 DE DEZEMBRO DE 2025, ÀS 19:49

O Rio Grande do Sul é o principal produtor de trigo do país, responsável por quase 50% da produção nacional. Para a safra de 2025/26, a expectativa é de que o Brasil colha cerca de 7,5 milhões de toneladas do grão, com o estado gaúcho superando 3,7 milhões de toneladas, de acordo com dados da Emater/RS-Ascar.

Apesar desse grande potencial, o setor enfrenta um desafio significativo: apenas 48% das áreas plantadas no Rio Grande do Sul utilizam sementes certificadas. Isso significa que mais da metade das lavouras adota sementes salvas ou de procedência desconhecida, o que pode comprometer a qualidade do grão e afetar a segurança alimentar.

Arthur Machado, da Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (APASSUL), destaca que essa situação reflete decisões tomadas por produtores diante de dificuldades climáticas e econômicas. No entanto, ele ressalta que o trigo tem grande potencial, principalmente com o uso de cultivares mais produtivas e resistentes a doenças.

Nos últimos anos, houve avanços significativos no melhoramento genético do trigo, com aumento na produtividade e resistência a doenças. Entretanto, a redução no uso de sementes certificadas é um retrocesso que pode comprometer a competitividade do trigo gaúcho no mercado nacional. Para reverter essa situação, é crucial que mais produtores optem por sementes certificadas, garantindo assim mais produtividade e sustentabilidade.

A Embrapa Trigo também enfatiza que a pesquisa no setor só traz resultados quando a base produtiva é forte. O uso inadequado de sementes sem procedência prejudica a rastreabilidade, fator essencial para a indústria e para a confiança do consumidor.

Além das questões produtivas, a cadeia do trigo é vital para a segurança alimentar no país. A falta de qualidade e volume na produção interna tem levado a um aumento nas importações de trigo. Até maio de 2025, o país importou 3,092 milhões de toneladas, o maior volume em 24 anos, resultando em gastos superiores a US$ 11,3 bilhões em compras ao longo da última década.

A queda no uso de sementes certificadas também afeta a rastreabilidade exigida pela indústria de moagens e alimentícias, comprometendo a padronização da farinha e a confiança dos consumidores.

O atual cenário, com altos custos, instabilidades climáticas e dificuldades de acesso ao crédito, exige ações estratégicas. A APASSUL destaca que investir em sementes certificadas é uma maneira de garantir inovação e segurança para toda a cadeia produtiva. Além disso, o manejo adequado do trigo não só melhora a produção, mas também contribui para iniciativas sustentáveis, como o sequestro de carbono.

Os investimentos em pesquisa também são fundamentais. O royalty por germoplasma varia entre R$ 11 e R$ 12 por saca de 40 kg e sustenta programas de melhoramento genético. As empresas do setor direcionam cerca de 20% do seu faturamento para pesquisa e desenvolvimento, o que é essencial para a inovação contínua do trigo brasileiro.

Com adoção de genética superior e um manejo apropriado, o Rio Grande do Sul tem potencial para aumentar em mais de 40% a produção de trigo de qualidade.

Receba conteúdos e promoções